Transposição levou 147 anos para deixar de ser ideia e se tornar realidade

Transposição levou 147 anos para deixar de ser ideia e se tornar realidade

Lula, em sua gestão, acelerou para que fosse iniciada a execução das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco
Correio Online
Infográfico mostra evolução do projeto da transposição
Há quase 150 anos mais um período de seca arrasadora trouxe à tona um plano ousado que ia além da tecnologia existente na época. Foi na década de 70 do século XIX que pela primeira vez o Brasil falou a palavra transposição. O debate para que as águas do 'Velho Chico' passasse a abastecer as regiões atingidas pela estiagem, segundo o historiador José Octávio de Arruda Melo, em entrevista ao Correio Online, foi iniciado no período do Império com Dom Pedro II.


As ideias, conforme o historiador, eram ambiciosas e envolviam uma articulação da ferrovia (os transportes ferroviários estavam chegando no país) com a transposição das águas do Rio São Francisco. O assunto, contudo, foi sendo esquecido porque não havia tecnologia suficiente para tal proeza.

Dos anos 1909 e 1910 a possibilidade de levar as águas do São Francisco para estados que sofriam com a seca voltou a ser cogitada. Foi no governo de Nilo Peçanha, que assumiu o governo com a morte do presidente Afonso Pena. A criação da Inspetoria de Obras Contra a Seca (embrião do atual Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – Dnocs) fez nascer esse desejo novamente, agora com Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, presidente do órgão.

No final da década de 10 no século XX (anos de 1919-1922), um paraibano assume a presidência do Brasil.  Relatos no livro de José Américo, “A Paraíba e seus problemas”, mostram que houve um debate sobre essa transposição. A maior parte fala do 'Rompe Norte" que, segundo José Octávio, focaliza a questão da transposição e seria um projeto grandioso, uma articulação do São Francisco com o Tocantins.

E mais uma vez a ideia foi interrompida e o tema só voltou a ser abordado no governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961). De acordo com José Otávio de Arruda Melo, sempre que havia seca se reacendia as discussões sobre o combate a esse problema e a transposição era tida como a salvação para isso.

Vem o governo de João Figueiredo (1979-1985) a intenção de ser presidente do Brasil fez Mário Andreazza, ministro de obras públicas, falar sobre o assunto para poder conquistar votos da região castigada pela estiagem, só que mais uma vez a obra sequer chegou a ir para o papel.

Para o historiador José Octávio de Melo, foi somente no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), que finalmente a tão falada transposição começou a ser colocada no papel. Em 17 de julho de 1998, o então presidente da República visitou a cidade de Monteiro e, na época, fez um discurso à população dizendo que seria feito um estudo sobre a possibilidade da transposição.

Vieram os governos petistas de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (2003-2016). Lula, em sua gestão, acelerou para que fosse iniciada a execução das obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco. Na gestão de Dilma, as obras continuaram a ser executadas e estavam previstas para terminar em 2014, mas não foi concluída.

E agora, somente 147 anos depois da primeira ideia, a transposição chega à Paraíba, no governo de Michel Temer. Ele concluiu o Eixo Leste, que deságua em Monteiro, para seguir a outros 70 municípios pelos leitos de rios.

Aline Martins e Nice Almeida, do Correio Online

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